Ellen Nascimento

Blog Jornalístico

Temer escapa da quebra de sigilo telefônico, mas continua na mira de investigações da PF

Acuado pelo andamento de duas investigações da Polícia Federal envolvendo seu nome, o presidente Michel Temer vive o seu pior momento à frente do governo. Sem força política e sem credibilidade para enfrentar a turbulência econômica, ele antecipa o fim do seu mandato, “como alguém que pilota um carro desgovernado”, segundo ilustra um assessor.

Ontem, ele suspirou aliviado diante da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, de rejeitar o pedido de quebra do seu sigilo telefônico. A apreensão permanece, no entanto, porque Fachin autorizou a quebra de sigilo de seus dois mais fiéis asseclas, os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e de Minas e Energia, Moreira Franco. O presidente passou a tarde de ontem em São Paulo, discutindo o assunto com o seu advogado, Antônio Mariz, segundo uma fonte. À noite, jantou com o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto. Manteve para hoje a agenda oficial de lançamento da construção de um reator nuclear na cidade de Iperó, interior paulista.

A Polícia Federal pediu a quebra de sigilo para rastrear uma suposta conversa entre Temer e os dois ministros no âmbito do inquérito da Lava Jato que apura o pagamento de propina pela Odebrecht ao MDB, partido dos três políticos, em 2014, cujo relator é Edson Fachin. A PF baseia o pedido no depoimento do delator Cláudio Melo Filho, ex-executivo da empreiteira, ao Ministério Público Federal (MPF), segundo quem o presidente teria pedido, em 2014, R$ 10 milhões a Marcelo Odebrecht, então presidente da construtora. Segundo o delator, o pedido foi assunto de conversas telefônicas entre Temer, Padilha e Moreira Franco. Com acesso às conversas, a PF quer chegar a esse diálogo.

Diante das denúncias envolvendo os dois ministros, o presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, Luiz Navarro de Britto Filho, pediu a Fachin, na semana passada, o acesso à íntegra do inquérito. No despacho, Navarro de Britto Filho argumenta que o acesso ao inquérito servirá para “instruir processo de apuração ética” contra Moreira Franco e Eliseu Padilha na comissão, que não tem autonomia para julgar casos envolvendo o presidente da República.

Em abril do ano passado, a Comissão de Ética Pública abriu investigação contra os ministros, com base em denúncias feitas por parlamentares do Partido dos Trabalhadores de que haveria indícios de que os ministros estariam incorrendo em conduta incompatível com a ética e a probidade administrativa.

Não foi apenas em relação à Odebrecht que a PF indica pedidos de propina para o MDB em 2014. O empresário José Antunes Sobrinho, dono da Engevix, afirmou, em depoimento, que foi pressionado por Moreira Franco, à época ministro da Secretaria de Aviação Civil, para que financiasse o partido. Na época, a Engevix detinha participações no consórcio que administrava os aeroportos de Brasília e Natal.

Como mediador das negociações surge também o coronel aposentado da Polícia Militar e amigo íntimo de Temer, João Baptista Lima. O dono da Engevix disse que repassou a Lima pelo menos R$ 1 milhão para financiar campanhas de Temer, também em 2014.

Lima foi preso em março, na operação Skala, no âmbito de outro inquérito da Lava Jato sob a relatoria do ministro Luís Roberto Barroso, que investiga se o presidente Temer beneficiou a empresa Rodrimar, que administra o Porto de Santos, ao assinar o Decreto dos Portos. Segundo a denúncia, houve pagamento de propina em troca da publicação do decreto.

O desespero de Temer com este segundo inquérito é tamanho que na última quarta-feira o Planalto divulgou uma nota raivosa, nada coerente com a sobriedade exigida da comunicação institucional, qualificando o inquérito como “obra de ficção”.

A ira constante da nota foi provocada pela informação divulgada pela TV Globo de que o delegado Cleyber Malta Lopes, responsável pela investigação, incluiu no inquérito planilhas dando conta de que o coronel Lima recebia e repassava para Temer mensalidades fruto de propina da Rodrimar ainda na década de 90. “Nada mais precisa ser dito sobre esse escândalo digno do Projac, a maior fábrica de ficções do país”, diz a nota, em uma referência à Rede Globo.

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